E aí abrimos mais uma garrafa de vinho para bebermos.
Papo vem e papo vai, gostoso como o vinho que é colocado na taça e apreciado sem muita pretensão. Sem uma boa avaliação de seu conteúdo e de sua história, que começa no campo e termina na taça. Sem se perceber que as peripécias do vinho no Brasil começaram com a vinda dos portugueses desde 1532, passando pelas missões dos Jesuítas a partir de 1626, a proibição de se produzir vinho em 1789 e o retorno da produção com a vinda da Coroa Portuguesa para a colônia em 1808. Afinal, como o Rei e seus súditos poderiam comprar vinho da “terrinha” com Napoleão em seus calcanhares?
Porém, a produção de vinho no Brasil só ficou mais séria quando a migração de italianos acontece em 1875, fruto de uma crise econômica da Itália recém unificada em 1870 e que teve o apoio de Giuseppe Garibaldi. Sim, o mesmo que foi casado com Anita Garibaldi, aquela da Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul em 1835, e que deu nome ao município de Garibaldi.
Um belo documentário, Legado Italiano, da brasileira Márcia Monteiro, descreve bem este período que impulsionou a produção de uvas no Rio Grande do Sul e a criação das cooperativas, do sindicato e da escola de viticultura e enologia em Bento Gonçalves. Neste momento já estamos nos idos de 1959 e o país está muito distante dos séculos anteriores, e com uma produção de vinho que já dá conta de um consumo incipiente e localizado no Sul do país.
Daí para frente, a história muda, pois muitos investimentos externos foram feitos no Brasil e nos países vizinhos. Um exemplo foi a chegada da francesa Moët Chandon em 1973 para produção de espumantes em Garibaldi e a canadense Seagram, em 1974, que criou a Almadén em Santana do livramento. A Chandon continua com os franceses, enquanto a Almadén passou para as mãos de brasileiros.
Enquanto a produção crescia e se mantinha concentrada no Rio Grande do Sul, na década de 1980 é a vez dos consumidores se organizarem. Em São Paulo é fundada a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho. É a SBAV congregando os consumidores, com objetivo de “congregar e integrar apreciadores, estudiosos, enófilos, enólogos e demais pessoas que se interessem em degustar e estudar vinhos”. Logo em seguida, em 1983, o italiano Danio Braga funda a Associação Brasileira de Sommelier com objetivo de formar profissionais para atender a um mercado consumidor que crescia e se tornava mais exigente, apesar de a profissão de Sommelier ser regulamentada apenas em 2011!!
Nas décadas de 1980 e 1990 o mercado cresce, começam as importações e culmina com o advento dos vinhos alemães de garrafa azul. Quem viveu nesta época há de recordar dos vinhos doces apresentados em garrafas azuis e compridas, e rótulos com nomes impronunciáveis!
Nos anos 2000 o Vale dos Vinhedos ganha o status de Indicação de Procedência, e hoje é a primeira Denominação de Origem do Brasil!
Do Brasil para o mundo!!! Em novembro de 2011 a inglesa Jancis Robinson, expert em vinhos, apresenta ao mundo pela primeira vez um espumante brasileiro na “Wine Future” em Hong Kong. Foi o Cave Geisse Magnun 1998, produzido pelo Mario Geisse em Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul. Vale lembrar que hoje temos a segunda Denominação de Origem brasileira e a primeira para espumantes abaixo da Linha do Equador: D.O. Altos de Pinto Bandeira.
Certamente, o evento em Hong Kong foi um marco para o vinho brasileiro e, em especial, para os espumantes. Culminou com a eleição da brasileira Regina Vanderlinde para a presidência da OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho, hoje ela é a primeira vice-presidente. A instituição foi criada em 2001, como sucessora do Ofício Internacional da Vinha e do Vinho de 1924, com sede na França, conta com 50 países membros, congrega 87% da produção mundial e 71% do consumo mundial.
E isso é só o começo, pois hoje vivemos uma verdadeira revolução do vinho brasileiro, após o advento da dupla-poda. Mas isso é tema para um próximo bate-papo. Saúde!
E para finalizar, já que o nome da Coluna é Vinho & Poesia, lá vai…..
Vinho
Por que deveras deixei-me apaixonar deveras em um breve olhar?
Tua cor, teu corpo,
teus aromas de frutas do bosque.
Ah! Que ardor em meu peito,
poder sentir-te e amar
com o frescor do amor, primeiro em um convescote.
Por que deveras entreguei-me sem pestanejar,
ao teu sabor e prazer sem alguma explicação?
Ah! O fulgor que eclode de meu peito a arfar
A buscar forças e decidir entre o sim e o não
Chega! Decidido estou sobre o nosso destino
Não mais suporto a sofreguidão do ser, não ser
Não mais deixarei levar-me por esse desatino
Ter-te-ei em minhas mãos esse cálice fino
Saberei usufruir de tudo que tens para mim
Sorver-te-ei com paixão e selarei nosso destino
(Antonio Barros)
Luiz Barros – Sommelier, Poeta e amante de vinho
21 99602-6519